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Uma Missão para continuar

Por estas páginas circulou sempre o cortejo de angústias e esperanças que constituem o palpitar do povo covilhanense

Maio de 1919, um mês quente, se o não era na temperatura, sê-lo-ia pelo menos no ambiente sociopolítico. Tempo de divisões e desventuras, conflitos político-partidários armados, de decepção e incompreensão pela participação numa guerra mundial, de miséria que corroía os mais pobres que se viam agora ainda mais fragilizados por um novo surto de pneumónica. Tensões que ferviam num caldeirão, onde, de quando em vez, se vertiam ténues esperanças. Um novo bairro social, o projecto lei da reorganização da Escola Industrial Campos Melo, apresentado pelos três deputados eleitos pelo círculo da Covilhã. Ainda tinha círculo eleitoral a Cidade Lã! Entre avanços e recuos há Covilhanenses que não ficam mudos. A 11 de Maio, António Figueiredo Júnior, publica o 1º nº do Jornal “O Dever”. Sete dias depois, a 18, renasce o projecto de António Catalão que fora mandado prender pelo administrador do Concelho, Ferraz das Barbas. O Jornal “A Democracia” dava assim lugar ao “Notícias da Covilhã”. Ainda com o sangue na guelra, o timbre editorial do rejuvenescido semanário reflectia, a par da defesa dos valores mais tradicionais, a reivindicação de melhores condições de vida para aqueles que nunca as tiveram. Exigia-se um verdadeiro desenvolvimento que não esquecesse o secular caminho percorrido pela “Manchester Lusitana”. Com cavalheiresca elegância eram criticados actos, situações e princípios contrários aos valores preconizados. Dotado da necessária dose de irreverência, assim nasceu em 19 e assim se manteve, sempre ou quase sempre, durante o último século. Nas suas páginas surgiam emblemáticas rúbricas que perduraram durante décadas, “Coisas Sérias” para de acordo com a velha máxima vicentina, castigar os costumes, a rir, ou o “Cantinho da História” onde escreveu José Alves Monteiro.

Daly era o pseudónimo de Ilda Catalão Espiga, a feminista de serviço no “Notícias da Covilhã”.

Os editoriais serviam para lançar projectos, identificavam-se as necessidades, apelava-se à boa vontade covilhanense e passo a passo a obra ia nascendo. Foi assim que nasceu o Lactário, que se concluiu o monumento ao soldado desconhecido, que se criou um museu municipal. Semana a semana publicitavam-se os espectáculos de benemerência, as doações dos abastados e menos abastados mecenas, as doações de “antigualhas” para o museu.

A vida social ia desfilando pelas páginas deste nosso mensageiro, desde o promissor pedido de casamento à derradeira informação do términusterreal, tudo era noticiado. O assalto, a prisão do falcato, o conto do vigário também aqui encontravam lugar.

Enfim, por estas páginas circulou sempre o cortejo de angústias e esperanças que constituem o palpitar do povo covilhanense. E porque os objectivos deste jornal continuam ainda a exigir ser cumpridos, aqui expresso o meu desejo de uma longa vida e parabém ao Notícias da Covilhã.

Carlos Madaleno

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