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Memórias da Covilhã em azulejo

Tríptico foi pintado por Rosário Belo

São 755 azulejos que pretendem homenagear a Covilhã, a Serra da Estrela, as gentes e recordar também uma época, histórias e pessoas em concreto, desde há quatro meses afixados na curva da Rua Rui Faleiro, em forma de tríptico, da autoria da artista Rosário Belo.

A saudade foi palavra presente na mente do empresário Joaquim Almeida, 80 anos, durante as três décadas em que esteve emigrado em França. Eram as origens e vivências, sempre presentes, que tinha vontade de retratar na parede exterior da casa da família, comprada em 1985, na altura com pinturas alusivas ao 25 de Abril, que o tempo acabou por apagar.

O mural feito por alunos de Rodolfo Passaporte, como Joaquim Almeida também foi, desapareceu e ficou a vontade, adiada, de no local retratar as memórias da família, extensíveis a muitos covilhanenses, mas também pedaços da história da Covilhã, da serra e dos lanifícios.

Acabou por ser “uma casualidade” a precipitar o que há anos andava a ser protelado. A artista plástica, ceramista, ilustradora e muralista natural de Nisa e residente em Castelo Branco quis oferecer um painel para a entrada da barbearia Fellows Barbers e, quando os conhecidos da artista pediram autorização ao proprietário da parede, Joaquim Almeida ficou a conhecer o trabalho de Rosário Belo, os filhos, ambos ligados às artes, incentivaram e, além do que a autora tinha previsto, encomendou mais dois painéis.

A conjugação de fatores fez com que o trabalho avançasse rapidamente. Joaquim tinha receio de que a sua ideia não fosse entendida. Um projeto pedido há anos ficou longe de refletir a sua intenção e acabou por ficar na gaveta. Depois de conhecer o trabalho de Rosário Belo, 52 anos, que não faz esboço e vai criando na hora, decidiu confiar e está agradado com o resultado e com a reação de quem o aborda.

“Tinha receio de não ser retratado o que eu sentia, não sabia se a artista conseguia exprimir como eu gosto da minha cidade, mas eu queria que estivesse ali mais ou menos o que está e saiu-se bem com o meu pensamento”, elogia o empresário do ramo hoteleiro.

Rosário ia desenhando e enviando as partes prontas de um trabalho feito “com alma e coração”, o primeiro numa zona exterior na Covilhã.

A máquina de costura, em memória da mãe e sogra de Joaquim, o lobo que o obrigou em criança a ficar com a mãe à espera numa corte até que fosse embora, quando andavam à lenha, a Fonte das Três Bicas, uma lançadeira e muitos locais e tradições da montanha são elementos que a família pediu que estivessem presentes, e que acreditam que possam projetar as memórias de muitos outros covilhanenses.

Junto à porta 58 da Rua Rui Faleiro a artista, “sem limites impostos” e liberdade para criar, procurou “transmitir a verdadeira essência da Covilhã e da região, homenageando as suas gentes, cultura, natureza e tradições”. Os painéis, diz, “contam muitas histórias e, para quem tiver tempo de os observar, existem pormenores que falam por si”.

Os marcadores do passado da família Almeida estão incorporados num dos painéis. O restante partiu das visitas à cidade, à serra e da pesquisa feita no Museu dos Lanifícios, para que os covilhanenses se revejam no que está agora exposto na via pública.

Os pastores, os rebanhos, a tuna, a Torre, o esqui, a subida de bicicleta à Serra da Estrela, o burel, o queijo, a imagem de Nossa Senhora da Boa Estrela, a lã, a tinturaria, o granito e a água que escorre na montanha são aspetos pintados nos azulejos.

“Qualquer visitante acaba por encontrar elementos com que se vai identificar”, salienta Joaquim Almeida, a quem “os painéis mexem com os sentidos”.

O proprietário da residencial Covilhã Jardim admite ter tido o receio de “não ser representado o que sentia”, mas afirma ter confiado e arriscado e dissipou essas dúvidas na manhã de novembro em que os três painéis foram montados e viveu “a emoção” de quando foi surpreendido ao mesmo tempo de quem passava na rua e elogiou a iniciativa.

Não é vaidade, garante. “Fiz com a intenção de deixar aqui uma parede bonita e que agradasse a quem cá passasse, que também diga alguma coisa aos covilhanenses”, acentua Joaquim Almeida. “Assim como eu sinto prazer em ver, gosto que outros possam sentir esse prazer”, acrescenta o empresário, que tem os seus estabelecimentos decorados com pinturas, a maioria do filho.

Sem mencionar valores, diz que o investimento teria sido excessivo se não tivesse atendido às expectativas, o que não foi o caso.

“Este era um sítio que estava mal aproveitado e agora está aqui uma obra de arte com visibilidade, para a cidade”, realça Joaquim Almeida, que aprecia também “a durabilidade” do azulejo.

Depois de muito aguardar a oportunidade certa para a arte embelezar o local, tudo aconteceu “com naturalidade”. Para Rosário Belo, ter uma das suas obras para usufruto público na Covilhã foi “uma missão cumprida”.

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