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Gaspar Lopes Henriques

Carlos Madaleno

Historiador

Gaspar Lopes Henriques nasceu, na Covilhã, em 1651. Era filho de cristãos-novos, João Esteves Henriques, mercador, e Catarina Henriques. A sua infância foi passada entre a vila serrana, Alvito, Beja e Lisboa, como resultado da atividade comercial do pai, mas também porque assim era mais fácil escapar às malhas da Inquisição. Desde que se conhecia como gente, Gaspar habituara-se a guardar os sábados, dia em que vestia camisa lavada; a fazer o jejum do dia grande que vem aos 10 da lua de setembro e o da rainha Ester. Assinalava a Páscoa do pão ázimo, não comendo, todos os dias dela, pão fermentado, mas antes bolos ázimos. Para salvação da alma, não se alimentava ainda de carne de porco, lebre ou coelho, nem de peixe de pele. Bênção ou maldição, seria esta a sina que tantos tormentos lhe traria até ao fim de seus dias.

Aprendeu latim e, entre 1674 e 1676, estudou Medicina, em Salamanca. No ano seguinte, o que era até então apenas temor, torna-se realidade. Ele, sua mãe, então já viúva, os irmãos, Branca, Diogo, Isabel e Pedro a todos são instaurados processos. Todos passam pelo Estaus da Inquisição. Gaspar foi sentenciado em auto-da-fé, de 14/12/1667. Foi obrigado a abjurar em forma, a fazer penitências espirituais e ainda ao pagamento de custas.

Terá concluído os estudos. Passou a exercer medicina na Capital, na rua do Escudeiro. Casou com Jerónima Henriques de Chaves, natural da Cidade Rodrigo, Espanha, filha de Mécia Chaves e de Francisco Lopes Preto que vivia de suas fazendas. A vida não lhe corria mal, era reconhecido, ia engrossando a sua biblioteca e o seu mealheiro, não fosse o sobressalto de voltar ao cárcere por causa da lei de Moisés, seria um homem feliz. Mas, em 08/09/1703, é de novo preso, culpa dos que lhe eram mais próximos e caiem na mesma desgraça. João Gomes Henriques, Leonor de Chaves, Gaspar de Sousa, médico em Cascais, Jorge Mendes Nobre, advogado em Trancoso, todos amigos, familiares e da mesma fé, acabam por o denunciar, na esperança de melhorarem a sua sorte. Até o sobrinho, Pedro Lopes Samuda, que chegara a clérigo in minoribus mas não evitou o cárcere da Inquisição, o havia de trair. Era este filho de sua irmã Isabel e de seu cunhado Simão Lopes Samuda, igualmente médico.

Gaspar foi de novo sentenciado, em auto-da-fé, de 06/11/1707. Agora condenado a cárcere penitencial perpétuo, três anos de degredo no Brasil, penitências espirituais e pagamento de custas. Antes de seguir para o Brasil, foi enviado para a prisão do Limoeiro. Estava velho e queixava-se de um estupor (entorpecimento patológico das faculdades intelectuais, acompanhado de alterações motoras e sensitivas). O médico da Inquisição Manuel da Costa Pereira certifica o seu estado de saúde, recomendando a saída da prisão e o tratamento em caldas. Mais não conseguimos apurar do seu destino.

Entretanto, a mulher, as filhas Catarina Micaela e Jacinta Eugénia e o filho Diogo de Carvalho Chaves que se formara em Direito, experimentam também eles os calabouços do Santo Ofício. O último daria, ao filho, o nome do avô, Gaspar Lopes Henriques de Chaves. Tal como o avô foi médico, exerceu em Almada. Entre 1785 e 1786, realizou um diário de observações clínicas, no qual, efetua uma breve descrição sobre a saúde pública. Menciona as moléstias a que os habitantes estão sujeitos, principalmente, as crianças. Relaciona a localização baixa de certos lugares, Caramujo, Mutela e Piedade, com o problema da estagnação de águas. Destaca a importância do clima, quer para o agravamento de algumas patologias, quer, para a escolha da prescrição terapêutica. Tal como o avô, não escapou à Inquisição.

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