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Seda em terra de Lã

Carlos Madaleno

A Covilhã é, foi, e será sempre conhecida pela produção de tecidos de lã. Não obstante nesta terra onde os artificies são protegidos de Minerva, outras artes têxteis floresceram.

O linho, o feltro e a seda não foram exceção. Mas falemos hoje da seda, esse nobre tecido nascido na longínqua China. Em 1863, na Covilhã, produziu-se cerca de 14.300Kg de seda em rama, cinco vezes mais que em Castelo Branco, cidade que hoje dispõe de um espaço museológico para a preservação da memória deste produto e suas tecnologias. Nessa altura durante a feira de Santiago, os comerciantes de tecidos procuravam ali a seda em rama produzida no Tortosendo, Teixoso, Alpedrinha, Castelo Novo e noutras povoações da região para a mandarem reduzir a retroz nas fábricas portuenses. Mas por cá também se produzia retroz, isto é, fio de seda, tanto para coser, como frouxo para bordar.

Era no Teixoso que o retroz de diversas cores se manufaturava com perfeição notável. Disto nos dava conta Manuel Ferreira da Cunha Pereira, no relatório enviado a Fradesso da Silveira que publicaria a obra “Fábricas da Covilhã”. No referido documento, aludia-se ao trabalho de Maria Victoria Donozo Tinoco que apresentara amostras de excelente qualidade na exposição de 1863 em Lisboa. Dona Victória pertencia a abastadas famílias, com grandes propriedades no Teixoso. Ela própria geria toda a atividade ligada à seda. Em março, mandava estrumar as amoreiras que possuía. No mês seguinte, era ela quem retirava a semente, assim chamavam aos ovos do bicho da seda, de caixinhas de papelão e a testava em vinho. Os ovos que fossem ao fundo estariam aptos para o processo de eclosão. Durante o quarto crescente de abril eram colocados em panos cobertos de papel num local soalheiro. Após nascidos, os bichinhos transferiam-se para tabuleiros com papel perfurado, por onde eles passavam para se alimentar das folhas de amoreira. Dona Victória tinha o máximo cuidado com as folhas. Nem demasiado duras, nem demasiado tenras, nunca com orvalho, nem murchas… De três em três dias retirava os excrementos aos bichos da seda e fazia-lhe defumadouros com incenso ou cebolas queimadas sobre as brasas para os manter de boa saúde. Observava-os amiúde a fim de proceder à muda. Esta operação era feita após os bichitos dormirem 4 vezes. Quando mostravam um fio na boca e erguiam a cabeça estava na hora de colocar ramos de esteva em redor dos tabuleiros, para onde trepavam a fim de fazer os casulos. D. Victoria iria agora escolher os melhores casulos para a semente. Sabia que dos mais largos sairiam machos e dos redondos fêmeas, todos os outros seriam sacrificados para a produção da nobre fibra. As suas criadas vertiam água quente em grandes alguidares de barro, onde se encontravam já os casulos. Depois era vê-las com um pauzinho de carqueja na mão retirar da água os filamentos que se libertavam da sericina, eram agora seda em rama. Havia que fiá-la à mão ou na roda. Ensarilhadas as maçarocas em meadas, eram cozidas com cinzas de madeira e coradas ao sol para se tornarem mais brancas. Pretendendo-se um fio torçal era necessário fazer a operação de torção após a fiação.

Dona Victória vendia a maioria do fio a Januário da Costa Rato, o único industrial que na Covilhã possuía um tear para a seda. Utilizava-o para tecer as fitas com que debruava e cingia os chapéus que produzia em feltro de pelo de coelho. Tinha ainda este um outro tear no qual fazia obras de sirgueiro e passamanaria, alamares, franjas, borlas…

A firma de Januário da Costa Rato vendia ainda algum tecido de seda a alfaiates e modistas locais, bem como a senhoras que se dedicavam ao fabrico de flores artificiais.

Algumas fábricas da Covilhã davam, nesta época, os primeiros passos no fabrico de casimiras, juntando a lã e o fio de seda.

Mas as grandes clientes de D. Victória eram aristocratas como ela que nos serões se entretinham a bordar panos ou a fazer golas de crochet e coifas de malha de renda com que se aperaltavam numa terra onde o serrobeco era rei

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