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A República lava mais branco

José Avelino Gonçalves*

A manhã está tenebrosa. A chuva tomba desalmadamente no lajedo do Pelourinho, soprada pelo vento agreste vindo da serra. O cónego Manuel Anaquim e o padre Rafael dirigem-se para os Paços do Concelho. Levam a edição semanal do jornal “A Democracia”, à comissão de censura preventiva. Bem aconchegada, não vá a chuvada estragar a Obra.

O senhor cónego é delicado, aristocrata, franzino. O padre Rafael, seu companheiro de luta, é mais nutrido de carnes, moreno, simpático e tido por boa pessoa.

A comissão de censura anda de “lápis afiado”! Conhecem a ferocidade republicana dos censores. O tenente-coronel da administração militar, António Pereira de Albuquerque e o capitão Manoel Barreiros, todos na reserva, estão de “pucarinho” com o senhor administrador. Até os colocaram no gabinete de sua excelência! O senhor administrador do concelho, Guilhermino Lopes, mandou encerrar o Centro Católico do Teixoso. Alega que era um “coio monárquico revolucionário e reacionário.

A edição de 29 de Outubro de 1916 sai de lá branquinha! Imaculada! Para que o povo saiba quem diz mal da república! Como os outros, o regime não aceitava críticas. A liberdade de expressão está em risco. O governo republicano, “à pala” do estado de guerra, tem censurado fortemente a imprensa regional, principalmente a católica. Os jornais “Correspondência da Covilhã” e o “Intrépido”, não são censurados. Corre-lhes sangue republicano na escrita.

Os tempos andam difíceis para a imprensa católica. Não esquecem, aquela manhã do mês de Janeiro de 1913. O Círculo Católico da Covilhã é invadido. Destroem a mobília e as máquinas de impressão. O jornal “A Justiça”, órgão do Partido Republicano Português, acabadinho de nascer, desanca nos católicos. Insere um diálogo imaginário, entre um sócio do Círculo Católico e sua mulher: -“Pois é crível que Deus, tanto das nossas relações, tão nosso amigo, deixasse sair daquele santuário de fé, os miseráveis que tiveram a ousadia de ali penetrar?

“A Democracia”, fundada por Monsenhor José Fino Beja, é encerrada, em Fevereiro de 1919, a mando do regime republicano. O jornal renasce a 18 de Maio de 1919, com o título “Notícias da Covilhã”. As mesmas pessoas, as mesmas ideias, os mesmos valores – “Deus Pátria e Liberdade”.

*Juiz presidente da Comarca de Castelo Branco

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